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A única coisa que posso dizer sobre mim, é aquilo que me define... E o que me define são as minhas convicções, aqui estão elas: * [ Free spirit and open minded]; * [Live your life not because you are alive,but because you want to feel alive]; * [Enjoy every moment and be free]; * [Every day is a new day but the battel's still on, keep it strong]; * [ Fight for what you believe in, and then enjoy your victory]; * [ Be a leader not a follower!].

Pensar

Pensar
"Reflectir sobre o reflectir"

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Teorias explicativas do conhecimento (David Hume)


DA ORIGEM DAS IDEIAS

11.Todos admitirão prontamente que existe uma dife­rença considerável entre as percepções (perceptions) da mente. quando um homem sente a dor de um calor excessivo ou o prazer de um ardor moderado, e quando ele depois traz à memória a sua sensação (sensation) ou a antecipa mediante a sua imaginação (imagination). Estas faculdades podem mimar ou copiar as percepções dos sentidos, mas nunca podem inteiramente atingir a força e vivacidade do sentimento (sentido ment) original. 0 máximo que delas afirmamos, mesmo quando actuam com o maior vigor, é que representam o seu objecto de uma maneira tão viva que poderíamos quase dizer que o sentimos ou vemos. Mas, a não ser que a mente esteja desarranjada pela doença ou pela loucura, elas nunca podem chegar a tal nível de vivacidade que tornem totalmente indistinguíveis as percepções. Todas as cores da poesia, por esplêndidas que sejam, jamais podem pintar os objectos naturais de uma maneira tal que levem a descrição a ser tomada por uma paisagem real. 0 mais vivo pensamento (thought) é ainda inferior à mais baça sensação (sensation).
Podemos observar que uma distinção similar prevalece em todas as outras percepções da mente. Um homem, num acesso de cólera, é movido de um modo muito diferente daquele que apenas pensa nesta emoção (emotion). Se alguém me diz que uma pessoa está apaixonada, eu facilmente compreendo o que quer dizer (meaning), e formo uma justa concepção da sua situação, mas nunca posso confundir esta concepção com as desordens e as agitações da paixão. Quando reflectimos acerca dos nossos sentimentos e estados de ânimo (affections) passados, o nosso pensamento é um espelho fiel. e copia os seus objectos com verdade; mas as cores que emprega são indistintas e baças em comparação daquelas com que estavam revestidas as nossas percepções originais. Não se exige nenhum discernimento fino ou cabeça metafísica para assinalar a dis­tinção entre elas.
12 Podemos, pois, dividir aqui todas as percepções da mente em duas classes ou tipos, que se distinguem pelos seus diferentes graus de força e vivacidade. As menos intensas e vivas são comummente designadas Pensamentos (thoughts) ou Ideias (ideas). O outro tipo carece de um nome na nossa lín­gua e em muitas outras; assim suponho, porque não havia quaisquer requisitos, a não ser filosóficos, para os classificar sob um termo ou designação geral. Usemos, pois, de um pouco de liberdade e chamemos-lhes Impressões (impressions), empre­gando esta palavra num sentido um tanto diverso do habitual. Pelo termo impressão significo todas as nossas percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos. E as impressões distinguem-se das ideias, que são as impressões menos intensas, das quais somos conscientes quando reflectimos sobre qualquer das sensações ou movimentos acima mencionados.
13. Nada, à primeira vista, pode parecer mais livre do que o pensamento do homem, que não só se esquiva a todo o poder e autoridade humanos, mas nem sequer está encar­cerado dentro dos limites da natureza e da realidade. Dar forma a monstros e associar imagens e aparências não custa à imaginação maior esforço do que conceber os objectos mais naturais e familiares. E enquanto o corpo está confinado a um planeta, ao longo do qual se arrasta com dor e dificuldade, o pensamento pode, num instante, transportar-nos para as mais distantes regiões do universo ou mesmo para lá do universo, para o caos ilimitado, onde a natureza, por suposição, se encontra em total confusão. O que nunca foi visto ou se ouviu pode, apesar de tudo, conceber-se e nenhuma coisa existe para
além do poder do pensamento, excepto o que implica uma absoluta contradição.
Mas, embora o nosso pensamento pareça possuir esta liberdade irrestrita, veremos, num exame mais pormenorizado, que se encontra realmente confinado a limites muito estreitos e que todo este poder criador da mente nada mais vem a ser do que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos são fornecidos pelos sentidos e pela experiência. Quando pensamos numa montanha de oiro, juntamos unicamente duas ideias consistentes, oiro e montanha, com as quais já antes estávamos familiarizados. Podemos conceber um cavalo virtuoso porque, a partir do nosso próprio sentimento (feeling), podemos conceber a virtude; e esta agregamo-la a figura e à forma de um cavalo, que é um animal para nós familiar. Em suma, todos os materiais do pensamento são derivados da sensibilidade (*) (sentiment) externa ou interna: a mistura e composição destes pertencem apenas à mente e à vontade. Ora, para me expressar em linguagem filosófica, todas as nossas ideias, ou percepções mais fracas, são cópias das nossas impressões ou [percepções] mais intensas.
14. Os dois argumentos seguintes serão, espero, sufi­cientes para provar isto. Primeiro, ao analisarmos os nossos pensamentos ou ideias, por muito compostas e sublimes que sejam, sempre descobrimos que elas se resolvem em ideias tão simples como se fossem copiadas de uma sensação ou sentimento precedente. Mesmo as ideias que, à primeira vista, parecem afastadas destas origem, descobre-se. após um escru­tínio mais minucioso, serem dela derivadas. A ideia de Deus, enquanto significa um Ser infinitamente inteligente, sábio e bom, promana da reflexão sobre as operações da nossa própria mente, e eleva sem limite essas qualidades da bondade e sabe­doria. Podemos prosseguir esta inquirição até ao ponto que nos agradar, onde sempre descobriremos que toda a ideia que examinamos é copiada de uma impressão similar. Aqueles que afirmarem que esta posição não é universalmente verda­deira nem sem excepção têm um só e fácil método de a refutar, apresentando essa ideia que, na sua opinião, não é derivada desta fonte. Compete-nos, pois, a nós, se havemos de manter a nossa doutrina, mostrar a impressão, ou a percepção viva que lhe corresponde.
15. Segundo, se acontecer que um homem, em virtude de um defeito dos órgãos, não é susceptível de qualquer espé­cie de sensação, vemos sempre que ele é igualmente pouco susceptível das ideias correspondentes. Um homem cego não pode formar nenhuma noção das cores, e um surdo, dos sons. Restitua-se a cada um deles o sentido em que é deficiente; franqueando esta nova entrada para as suas sensações, patenteia-se também uma entrada para as ideias, e ele não encontra dificuldade alguma em conceber esses objectos. 0 mesmo acontece se o objecto, adequado para a excitação de alguma sensação, nunca se tiver aplicado aos órgãos. Um lapão ou um negro não têm noção do paladar do vinho. E embora haja poucos ou nenhuns exemplos de uma semelhante deficiência na mente, em que uma pessoa nunca reconheceu ou é totalmente incapaz de um sentimento ou paixão que pertence à sua espécie, no entanto, descobrimos que a mesma observação ocorre num grau menor. Um homem de maneiras brandas não pode formar uma ideia de vingança ou crueldade inveterada, nem um coração egoísta pode facilmente conceber as alturas da amizade e da generosidade. Admite-se prontamente que outros seres possam possuir muitos sentidos dos quais não temos nenhuma noção, porque as ideias deles nunca nos foram introduzidas da única maneira pela qual uma ideia pode ter acesso à mente, isto é, através da sensibilidade e da sensação efectivas.
16. Existe, contudo, um fenómeno contraditório que pode provar que não é absolutamente impossível surgirem ideias independentes das suas impressões correspondentes. Creio que sem grande esforço se admitirá que as várias e distintas ideias de cor, que entram pelos olhos, ou as de som, que são trans­portadas pelos ouvidos, são realmente diferentes umas das outras, embora, ao mesmo tempo, se assemelhem. Ora, se isto é verdade a respeito das diferentes cores, também o não deve ser menos acerca dos diferentes matizes da mesma cor; e cada matiz produz uma ideia distinta, independente do resto. Pois, se isto se houver de negar, é possível, pela contínua gradação de matizes, deslocar insensivelmente uma cor para o que mais remoto dela está; e se não se permitir a algum dos meios ser diferente, também não se pode, sem absurdo, recusar aos extremos serem os mesmos. Suponhamos, pois, que uma pessoa desfrutou da sua visão durante trinta anos e que se tornou perfeitamente familiarizada com cores de todas as espécies, excepto com um matiz particular de azul, por exemplo, que nunca teve a sorte de encontrar. Que todos os diferentes matizes dessa cor, excepto aquele único, lhe sejam apresentados, descendo gradualmente do mais escuro para o mais claro; é evidente que ela percepcionará uma lacuna, onde essa cor falta, e terá consciência de que nesse lugar há, entre as cores contíguas, uma distância maior do que em qualquer outro. Pergunto eu, agora: ser-lhe-á possível, pela sua própria imaginação, suprir tal deficiência e ascender por si mesma à ideia desse matiz particular, embora nunca lhe tenha sido transmitida pelos sentido? Creio que serão poucos os que não
tenham a opinião de que ela pode: e isto pode servir de prova de que as ideias simples não são sempre, em todas as circuns­tâncias, derivadas das impressões correspondentes, embora este exemplo seja tão singular que dificilmente é digno da nossa observação e não merece que. por ele apenas, tenhamos de alterar a nossa máxima geral.
17. Eis aqui. por conseguinte, uma proposição que não só parece, em si mesma, simples e inteligível, mas que. se dela se fizesse um uso conveniente, poderia tornar igualmente inteligível toda a disputa e banir toda aquela gíria que. até agora, se apoderou dos raciocínios metafísicos e sobre eles lançou a vergonha. Todas as ideias, em especial as abstractas, são naturalmente vagas e obscuras; a mente tem delas apenas um escasso domínio. E são propensas a confundir-se com outras ideias semelhantes: e quando utilizámos muitas vezes algum termo, embora sem um significado distinto, temos a inclinação para imaginar que possui uma ideia determinada a ele anexa. Pelo contrário, todas as impressões, isto é, todas as sensações, quer externas ou internas, são fortes e vivas; os limites entre elas estão mais exactamente determinados, e nem é fácil cair em erro ou engano em relação a elas. Por consequência, quando alimentarmos alguma suspeita de que um termo filosófico é empregue sem um significado ou ideia (como acontece com demasiada frequência), precisamos apenas de perguntar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível assinalar alguma, isso servirá para confirmar a nossa suspeita. Mediante esta tão clara elucidação das ideias, podemos justamente esperar remover toda a disputa que possa surgir acerca da sua natureza e realidade.

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